Passado o mês de outubro sem
escrever nada no blog, começo o mês de novembro com uma publicação muito
importante para mim e na qual pensei que demoraria muito mais tempo para
escrever sobre este tema: o aborto. Afinal, um blog que fala sobre gestação,
não poderia deixar de aborda-lo, porque nem todas as gestações tem sucesso.
Aborto é um tema polemico, onde
todo mundo tem uma opinião e muitos argumentos tanto para defendê-lo quanto
para recrimina-lo, além é claro, dos aspectos religiosos que estão impregnados
em nossas veias, principalmente quando o aborto é provocado.
Sempre acreditei que a mulher
deveria ter o direito de escolher o melhor momento para ter um filho, afinal,
criar e educar uma criança requer muito tempo e cuidado, não é simplesmente dar
a luz, e após o parto entregar esta nova vida que lhe foi confiada por Deus,
para que outra pessoa ou o Estado cuide e se responsabilize por ela.
Sendo que a única responsável por
esta nova vida é a mãe, mas para muitas mulheres o simples fato de ter dado a
luz e ter “sofrido” na hora do parto, já é o suficiente por todas as
necessidades e cuidados que este novo ser humano necessita dela. Acredito então,
que este seja o motivo de tantas crianças abandonadas, mal tratadas, mal
educadas e mal cuidadas que vemos diariamente nos meios de comunicação.
Se a mulher tivesse a consciência
de que aquele filho é um filho de Deus e que este lhe foi dado em confiança e
se ocupasse o tempo disponível e necessário para os cuidados que uma criança
precisa, talvez os programas de planejamento familiar, através da distribuição
gratuita de métodos contraceptivos, tivesse o efeito esperado.
Enquanto isso não ocorre, vivemos
a desesperança de um futuro não muito distante. Mas, não estou aqui para falar
do papel da mulher/mãe, e sim do aborto.
Para uma mulher que teve um aborto natural, ver a situação citada acima é ainda mais doloroso, o que a deixa inconformada, principalmente quando se vivencia isso diariamente, como é o meu caso, que tive um aborto natural há quase dois anos e meio. Por isso digo que não foi doloroso ainda é, afinal esta é uma dor que não cicatriza nunca, é logico que diminui e fica menos frequente, mas não passa.
Talvez porque esta dor esteja se
transformando em consciência, é que venho através deste texto escrever não
apenas um desabafo, o que já é muito importante, porque por muito tempo queria
negar este fato a mim mesma, afinal ao me aproximar dele, me aproximava da
minha maior falha, a de não ter conseguido gestar uma nova vida. Mas esta não é
a única função do texto e sim elucidar e confortar mulheres que assim como eu
possuem este sentimento.
Após este aborto natural, nunca
mais tive coragem de tentar novamente engravidar, tive muita vontade, fui a
médicos, clinicas de reprodução, mas o medo de não conseguir sustentar uma nova
gravidez foi mais forte, porque já sabia o quanto tinha sofrido na gestação
anterior e sem saber e com muito medo da minha reação diante de
outra falha não prossegui nestas tentativas.
Busquei as explicações mais
absurdas para o ocorrido, coloquei a culpa além de mim é claro em varias pessoas,
mas hoje acredito que nada disso era a verdade. Assim, passo a acreditar que
não existem culpados e sim a falta de condições necessárias para que a gestação
fosse até o final, sei também que muitas pessoas tentaram me fazer ver isso,
para que meu sofrimento cessasse, mas diante da amargura desta dor é impossível
compreender alguma coisa, mesmo assim a própria Mãe Natureza me mandou um
exemplo há mais ou menos um ano para que eu pudesse me ver e me acalmar e assim
criasse a coragem necessária de tentar engravidar novamente, mas naquele
momento também foi em vão, digo naquele momento, porque hoje não é mais assim e
é por causa deste exemplo que estou escrevendo este post.
Ontem, finados, dia dos mortos,
encontrava-me, juntamente com a Thamires e Carla, semeando bandejas de
hortaliças na chácara Day Luz, onde realizo trabalho voluntario. Não sei como
começamos a falar sobre o aborto e foi quando dei o exemplo que vou digitar
logo abaixo:
“Um dia na unidade de saúde em que trabalho apareceu uma mulher
desesperada e queria conversar comigo, entramos em uma sala e começamos a
conversar. Foi então que ela me disse que estava gravida e queria fazer um
aborto, porque não tinha condições de cuidar de uma criança naquele momento,
onde além de trabalhar, tinha uma mãe doente e acamada e como não tinha condições
financeiras para pagar um cuidador, era ela que tinha que desempenhar este
serviço, afinal era filha única. Assim não teria tempo de cuidar desta criança,
depois de desabafar e decidida a realizar o aborto, foi embora. Passado quatro
ou cinco meses a mesma mulher retornou a unidade, para iniciar o pré-natal,
porque estava gravida novamente, então durante a consulta ela contou o restante
da historia: no outro dia após nossa conversa ela teve um aborto natural, onde
nem ela mesma acreditou no que estava acontecendo. Depois de dois meses do aborto
natural, sua mãe faleceu e agora se encontrava gravida novamente, mas que
diferente da outra vez, não queria mais um aborto, porque agora que a mãe tinha
falecido teria condições de cuidar do bebe e assim ela terminou a conversa:
tenho certeza que este bebe é o mesmo bebe que eu perdi e ficou esperando eu
estar pronta para ficar gravida dele novamente.”
Sei que tudo isso não parece
muito ético, mas não mencionei o nome da pessoa em nenhum momento, mas sei, que
ao ler este trecho ela irá se reconhecer, mas espero que me desculpe
profundamente, porque foi a sua historia que me fez ver o aborto de outra forma
e assim acredito que também possa auxiliar inúmeras outras mulheres que
passaram ou passam por esta experiência.
Mas vamos voltar ao tema, sempre
soube que assim como esta mulher que compareceu ao meu serviço, era possível,
provocar um aborto espontâneo, se a mulher acreditasse que o momento para
gestação não era aquele, mas estaria marcando um encontro com a gestação no
futuro quando tivesse as condições que ela acreditava ser necessárias para ter um
filho.
Só não imaginava que não era
apenas a mulher que determinava o momento e as condições necessárias para que a
gestação ocorresse e se sustentasse, mas também o espirito que se preparou para
reencarnar como seu filho, ou a própria Mãe Natureza, sendo assim, passo
acreditar que talvez seja este o motivo para ter sofrido um aborto natural,
mesmo tendo desejado tanto aquela gravidez.
Hoje, consigo ver o quanto eu
mudei, o quanto amadureci, estou até dividindo com vocês a minha maior falha e
dor, mas aprendi que nem tudo é como a gente quer e imagina, mas que é preciso
aprender com nossas falhas, porque ninguém é perfeito e apenas nos enfrentando
é que conseguiremos ser melhores, não melhor do que ninguém, mas melhor do que
fomos ontem.
Se não tivesse passado pela
experiência do aborto, talvez tivesse apenas argumento de ser a favor ou contra
para digitar neste texto e não este sentimento e um profundo respeito à dor que
uma mulher sente diante de tamanha perda.
Ainda não sei se terei forças
para tentar engravidar novamente, apesar do meu desejo profundo, mas acredito
que ontem recebi uma visita senão deste espirito, de algum ente muito querido,
para ver como eu estava e assim com o auxilio de outras duas mulheres me fez
ver e compreender de outra forma tudo que havia me ocorrido há dois anos e meio
atrás.
Sendo assim, espero que as mulheres
que sentem esta dor que descrevi nestas linhas também se fortaleçam, se
aprimorem e principalmente se enfrentem, porque só assim conseguirão alcançar
as condições necessárias para gestar uma nova vida em seu ventre e assim possa
reeduca-lo como um filho de Deus.
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